Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 18 de dezembro de 2016

Feliz Natal


Natal, há pois é, mais um ano que vai passar, montes de gente carregada de sacos, luzes pelas ruas parecendo a noite , dia um rodopio que só visto.

Crianças que berram fora e dentro das cadeirinhas de bebé, umas por birra outras ensonadas.

Parece não terem casa, á semana é a escola, depois os ATLs quando chega o sábado e domingo que querem ficar no seu quarto descansando gozando os brinquedos que lhes foram dados no Natal anterior, não podem porque se mantém o corre corre, o despacha-te senão não termos tempo.

Tempo para quê, para se enfiarem num centro comercial qualquer remexendo tudo comprando desalmadamente, o verdinho do cartão de credito aguenta-se, depois logo se vê.

Almoço, que almoço “toma lá dinheiro e vai aos hambúrguer !

E a azafama continua, é para o primo e para a prima, para os avós, amigos colegas etc etc. bugigangas de todo o feitio daquelas que se recebem e põem-se a um canto lá de casa sem qualquer utilidade.

E a ceia de Natal, bolos e mais bolos os salgados as sobremesas, bolas que não se tem tempo para fazer tudo, vai-se ali ao lado a pastelaria, e caro mas lá tem que ser.

E anda tudo numa fona entre prendas, arvores de Natal e até o gato que optou por se esconder debaixo do sofá.

E faz-se a consoada, mesa cheia caras cansadas olhos encovados, reza-se para que chegue rápido a hora de abrir os presentes e cair na cama.

E o telefonema que se esqueceram de fazer aos familiares e pais velhotes ? 

Sem olhar para o relógio resolvem desejar-lhes boas festas quando o soninho bom dos pobres velhotes é interrompido dada a hora tardia.

Nisto tudo onde está o espírito de Natal?

Bolas será que sou tão sádica que detesto tudo isto?

Como recordo com saudade a pobre da árvore que meu pai levava para casa, como se fosse o mais lindo pinheiro do mundo, e colocava a um canto da sala, normalmente junto ao aparador de louça e deixava que o enfeitássemos.

Imensas estrelas feitas de prata de cigarros que juntávamos durante o ano e guardávamos religiosamente dentro de um livro para as manter esticadas, no cimo a maior das estrelas a quem calhasse colocar encarrapitava-se numa cadeira quase caindo acabando por ser meu pai a coloca-la.

Neve, diziam que na Metrópole nevava naquela época, enquanto por lá o ar condicionado estava no máximo.

Resolve-se o problema, pedaços de algodão espalhados pela árvore parecia mesmo a tal neve que nunca tinhamos visto e apenas existia na nossa imaginação.

Depois havia que colocar as luzes, olho hoje para as gambiarras do chinês e apenas sorrio.

Na nossa árvore de Natal eram velas coloridas presas nos galhos por molas e que na noite de natal se acendiam.

Como era linda a minha árvore de Natal
.
Prendas apenas uma comprada só pelos adultos,e uma roupa nova para estrear na missa.

Sim havia que ir á missa lindas de vestidos novos que nos enchia de vaidades.

Outras prendas havia dos familiares mas coisas simples e uteis.

Num dos últimos Natais meu pai caprichou e ofereceu-nos umas bonecas grandes, com cabelo e brincos pequeninos, iguais para cada uma de nós
.
Essas bonecas eram tão lindas e gostávamos tanto delas que ainda hoje as temos
.
Após a missa, era o almoço melhorado com uma sobremesa caprichada pelo cozinheiro, bem como os docinhos de minha mãe recordando seus costumes de Natal, depois perdiamos-nos nas brincadeira l.

Pela tardinha quando o calor amainava visitávamos a família e amigos um pastelinho aqui um docinho ali ginger ale ou coka cola as crianças, wisk aos adultos enquanto iam conversando  desejando as Boas festas.

Era um natal bom, de amizades união e calmo, e à noite dormíamos felizes de sorriso nos lábios e sonhos infinitos.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

ANIVERSARIO DO MEU PRINCIPE





Miguel, ou Fernando Miguel foi o meu primeiro filho, vejo diariamente, o que não invalida ser também o meu menino, o rapagão que ao colocarem-me nos braços após nascer o medico apenas dizia “Is a Big boy”, de olhos arregalados, realmente ao lado das crianças que nasceram na altura era mesmo um rapagão.

O meu menino, o meu primeiro filho, tinha eu 20 anos uma menina mãe que adorava aquele bonequinho de verdade, que tinha que o amamentar, mudar-lhe a fralda tudo isto uma realidade que me parecia mentira.


Mas tornei-me mãe à séria, dum príncipe de que me orgulho.



 Passeando na terra dele Rhodesia


 Primeiro dia de escola.

Acontece que quis Deus que fosse em Dezembro que me casa-se , e nascessem os meus dois meninos apenas com a diferença de 4 dias, assim o mês que termina o ano é só festas união de família. Não falando do Natal.

Este ano por imposição da vida não poderiam ambos estar comigo nos seus aniversários, mas estavam no meu coração de mãe de dois filhos maravilhosos.

Mas não, por surpresa e apesar de dois dias depois bate-me porta a minha princesa, e quis Deus que domingo se festejasse o aniversario dos dois, alias como há tantos anos faziam, ter o mesmo bolo de aniversario divido, de um lado o nome da Luiza e outro Miguel, com as respectivas velas que apagavam os dois juntos.

No entanto há muito que não o faziam,  já me não lembra da ultima vez que havia acontecera, mas este ano repetiu-se a festa com apenas um bolo, metade de cada um.
A  terceira personagem da foto a minha Margarida que não podia passar sem assistir a tudo .



Logo de seguida cada um partiu para seu destino, no dia seguinte havia que trabalhar, mas que importa, fiquei com o coração cheio, filhos e netos juntos festejando os aniversários.


Que Deus os abençoe .

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

PARABENS LUIZA ALAGOA


Claro que hoje é o dia de remexer em tantas fotos espalhadas por todo lado, é o dia da felicidade e da saudade.

Não vou escrever muito pois prendem-se os dedos no teclado, enquanto a outra mão vai remexendo nas fotos.



Bem sei que vou ouvir pois algumas são “confidenciais” mas vou faltar a palavra e vou mesmo recordar tempos que a envolvia nos meus braços e cabia neles, depois foi crescendo, mas sempre que pode toma seu  lugar  só que agora sobra corpo para tão poucos braços, mas o cheiro os carinhos e os beijos são os mesmos.


 Como diz a Margarida de um lado do coração é da tia “Isa” do outro lado do papá.
E é mesmo e sempre será apesar de crescidos, os meus meninos mesmo que já tenha mais duas “intrusas” a ocupa-lo na ausência dos deles

Era tão pequenita e hoje continua a minha pequenita, é a minha princesa, e hoje é dia do seu aniversario.

Parabéns minha filha está linda que sejas muito feliz.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Jogo GORDOS E MAGROS


Está frio, lá fora ronda os zeros graus, e eu fui mexer nos baús do tempo, as fotos e as historias delas. Faz-me feliz fazer-lo!

Ao meu lado a pequenita que mistura as fotos todas com mil perguntas tentando identificar as pessoas que nelas aparecem.

Ao fim de pouco tempo desiste acha mais graça ás Barbies que descansavam no caixote dos brinquedos.

Volta o sossego de poder passar foto a foto, localiza-las no tempo,recordar as pessoas que ao tempo aparecem de sorriso aberto, gozando o tempo e o evento.

Aqueles tempos não eram só para os mais novos, mas para todos que residiam naquela cidade pequena, chamada pelos antigos o inferno de África, para nós o céu da vida.

Foi num domingo, der vasta assistência, não recordo o organizador apenas me lembro do evento, um jogo entre gordos e magros, os intervenientes pessoas com alguma idade, pai de filhos já crescidos alias como eu que no jogo lá estava o meu pai.

Foi um jogo “sui generis” onde as regras eram especiais, no entanto houve troca de galhardetes, medalhas etc. como deve de ser.


Mas diferentes pois tão depressa víamos o jogador da outra equipe marcar golo na sua própria baliza, como a defende-la, mas batiam palmas riam as gargalhadas, até interromper o jogo para fumar um cigarro etc.

Imagine-se que entre os jogadores saudoso Sr. Garção equipado e casaca de cerimónia

Não passou de uma tarde bem passada, tanto na altura como hoje que a recordo.

Não teria eu encontrado uma das medalhas distribuídas nesse evento.


Abençoado tempo onde o sol nascia e despedia-se cedo, as gentes eram felizes,.



terça-feira, 15 de novembro de 2016

DOÌ DOÌ´DA VOVÓ

Como explicar a uma garota de 4 anos que um hospital é onde se curam as pessoas quando tem doí doí ?

Pois não é fácil, entrar pela mão do pai e ver tanta gente de pijama com ar de dor e sofrimento deitados etc, mas ela baixou olhos e confiou na mão que a segurava.

Perdeu o medo porque na cama onde estava a avó apesar de tudo havia sorrisos e fluía a conversa normalmente.

Minha mãe esteve internada sujeita a uma cirurgia ao joelho, saiu há dois dias, na idade dela imagina-se as dores que terá que suportar, no entanto a pequenita não saia de ao pé dela, esfregando-lhe os braços com creme enquanto contava ao peripécias da escola.

E visitou-a algumas vezes só que para percorrer o caminho da enfermaria baixava os olhos , apenas isto.

De minha parte como é óbvio passava as tardes com ela falando de tudo e de nada, do presente e do passado, mesmo quando as visitas da amigas não lhe faltavam.

Algumas vezes dava comigo a pensar, que sensação terá uma mãe quando um filho lhe telefona apenas uma vez por semana perguntando se estava tudo bem.

Lembrou-me África, que quando algum ente querido falecia, as lágrimas não faltavam nunca enquanto lia as cartas, depois passava, e passava rápido , nem sentimentos havia porque não chegavam a saber da desgraça.

Apenas ao serão se comentava, coitado trabalhou tanto para criar os filhos e foi-se.

Este “coitado” será que incluía as dores que ele havia sofrido durante a doença, o sofrimento de quem os acompanhava dia a dia, lavando-dos dando-lhe de comer e as noites sobressaltadas não fosse dar-lhes alguma.

Sim, por la não havia lares onde os despejavam para não sentir tanto a decadência de quem toda a vida os criou e fez deles homens.

Pois apesar de pequenita e ainda não perceber as obrigações que um dia terá, pelo menos seus beijos e cuidados animam a avó.

Na verdade, um dia todos seremos velhos, e então darão valor a tudo que se possa fazer até mesmo um cumprimento, um pouco de conversa para não se verem  tantos, sentados a uma janela olhando o infinito como se só ele existisse no mundo, esperando que a morte os leve.





quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O SOL DA VIDA


Pois foi, mais um aniversario da minha mãe passou, estava feliz tal como uma criança que espera as prendas e os parabéns dos familiares e amigos.

A minha Margarida sua bisneta, delira quando os meninos da escola fazem anos.

Eles fazem postais coloridos com desenhos de flores, casinhas típicas da idade com duas janelas e uma porta, etc mas em nenhum falta nunca o SOL.

Talvez por ser fácil de fazer, amarelo com uns raios enormes como que abraçando tudo e todos.

Como é bom receber um abraço quentinho do sol e depois degustar a fatia de bolo enfeitado que as mamãs nunca esquecem de levar para que seja repartido à hora do lanche.

É bom fazer anos, é um dia de festa, e os idosos a partir de uma certa idade ficam encantados como as crianças.

Uma simples flor ou um telefonema curtinho que seja desejando os parabéns, enche-lhes a alma e ficam felizes.

Já ninguém se levante quanto toca o telefone nesse dia, apenas dizemos “é para ti mãe”, e coxeando lá vai ela atender.

Das mensagens do face book vou dando conta lendo e dizendo quem as envia, e de olhos marejados pede-me que agradeça, porque muita gente ela não conhece mas fica contente.

A festinha como sempre foi feita, concordo que com um exagero de sobremesas , coisas doces que gostam os idosos apesar de fazer pouco bem.

E reuniu-se a família, e por surpresa uma cunhada que se meteu ao caminho e também esteve não só ao jantar mas acabou por passar uns dia connosco, o que nos deu uma imenso prazer.

É disto que os idosos apreciam, rodeados de família e alegria

No fim de festas e para surpresa minha, sem papel nem lápis, na sua cabecinha estavam apontados os faltosos, os que sendo família chegada não ligaram ou por falta de saldo ou esquecimento.

Esquecimento este que se tem repetido ao longo de muitos anos.

Pois é tal como a Margarida festa é festa e aniversario é apenas uma vez ao ano, assim houve falta de postais com o imenso sol de raios quentinhos que deveriam abraça-la neste dia.

Para o ano queira Deus que faças os 90 anos com o mesmo discernimento que hoje tens porque a lista já vi que será novamente actualizada e talvez se lembrem, caso não aconteça, serei eu e a Margarida a desenhar um sol muito maior que te aquecerá sempre esse velho coração e te faça feliz.



sexta-feira, 30 de setembro de 2016

DÁ-ME UM BEIJO?

imagem da internet

Dá-me um beijo meu velho, oh deixa-te dessas coisas dizia o companheiro sentado à porta de casa num banco velho pintado de verde ou pelo menos parecia tal era o desgaste da pintura.

Então você me dá um beijo ou não, teimava ela debruçada sobre as costas cansadas de seu homem.

Havia já tantos anos que se haviam juntado, para uma vida cruel e difícil, os filhos já criados apenas restavam eles e a casa de pedra de telhas velhas perdida no campo de onde iam tirando as couves e as batatas para a sopa, e algum pito que por ali esgravatava o chão.

A noite caía e ela carente encostou os lábios ao rosto de barba crescida do seu velho e beijou-o.
Num repente vira a cara dizendo, fica queda mulher.

Ela puxa de outro banco e senta-se a seu lado , acomoda o avental em frente ás pernas, evitando que alguém maldoso deite o olhar, e cruza os braços olhando o infinito e o por do sol que já se ia recolhendo.

Ficam os dois em silencio, mas ele pelo canto do olho ia vendo a silhueta da mulher que já não recordava há quantos anos que era sua companheira.

Como era linda pensa ele, corpo esguio cabelo escuro apanhado num rolo preso por ganchos largos, olhar meigo e mãos esguias.

Ninguem diria que seria ela a sua sorte na vida.

Olha as mãos calejadas , tez queimada pelo sol, esguia como sempre fora, cabelos brancos baços de brilho escondidos num lenço escuro a que habituara por causa do sol no verão e do frio no inverno.

Deita o braço por cima dos ombros da companheira e puxa-a para ele, quase desequilibrando-a do banco, enquanto lhe diz, anda vamos para dentro já a noite esfria.

E ao passar pela porta estreita da casa dá-lhe o beijo que ela pedira, enquanto de olhos húmidos e voz tremula lhe diz, beijo-te todos os dias que para ti olho mulher.

Com o meu olhar, beijo-te as mãos quando me trazes o café pela manha, enquanto andas ao meu lado pelos campos, quando me dás o comer, me vestes e me aconchegas a roupa de noite.

Então sou eu que te não beijo meu velho, e chegando os lábios ao rosto do seu homem, beija-o, não sabe se um beijo de amor, de gratidão , amizade ou respeito apenas sentiu que era doce e gostoso.

Quase jurava que debaixo das rugas seu rosto corara, como acontecera em solteira.

Olham um para o outro e sorriem como que envergonhados dos beijos, sei lá.

Entre duas pessoas que se acompanham vida fora entendendo-se, cuidando um do outro, que se completam afinal é o quê?








quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Os vestidos das bonecas.



Faz-me um vestido para a minha boneca mãe.

Desde pequenita mal me via sentada à maquina de costura logo se punha a meu lado pedindo que lhe vestisse as bonecas.

Um dia dei com ela de agulha e tesoura na mão ela mesmo a fazer o vestido para a sua boneca.


Muito básico sem as minúcias que a costura obriga, mas a vontade de vestir as suas meninas cortou o tecido, enfeitou com renda e num ponto confuso vestiu-a como se fosse a um cerimónia. 





Depois mais outra e outra.

Foi uma vitoria, ela mesmo conseguir fazer o vestido sem a minha ajuda.

Claro que lhe dei os maiores elogios, e até hoje tenho guardado o seu primeiro vestido confeccionado por ela mesmo.

Por graça, fui depois vestindo as suas bonecas, costurando com restinhos de pano os vestidos de outras bonecas





Certo é que a tinha sempre ao meu lado entretida com as suas brincadeiras.

Dos muitos que ainda guardo, um conjunto de vestido e calça que no verão se veste ao chorão .




 No inverno imagine-se que me dei ao trabalho de fazer um vestido de malha, não fosse o boneco passar frio.






Os anos passaram ela cresceu e deixei de fazer as “toilette” das bonecas, mas eis que esta semana repetindo o que a tia fazia, lá tinha a minha neta ao meu lado enquanto cosia a máquina, fazendo o mesmo pedido:-

Vó faz um vestido para a “Sara”, nome que lhe atribuiu como faz com todas as outras.

Deu-me uma saudade daqueles tempos passados, e prometi que sim, a roda da vida repetia-se.

Rebusquei na caixa dos retalhos uma tira que desse para tal enquanto ela ao meu lado ia recusando uns e escolhendo outros até que se decidiu.


Fiz-lhe o vestido para a Sara, acabei-o ontem logo ao chegar da escola vou de certeza ver seus olhos esbugalhados de felicidade ao ver a sua Sara tão enfeitada.









Como é fácil ser feliz!

domingo, 11 de setembro de 2016

CARTAS



Andei a vasculhar gavetas esquecidas, coisas perdidas recordações de passagens da vida.

O que encontrei, muitas coisas , mais uma vez um reviver do passado de amigos, amores esquecidos, tempos tão antigos.

No meio de tudo isto, fotos antigas, montes de cartas dentro de envelopes amarelecidos pelo tempo ainda com respectivo selo no canto superior direito, alguns já com os cantos dobrados mas sobressaindo ao carimbo que lhes colocavam por cima como que prendendo-os para que não fugissem e se perdesse o seu conteúdo.

Cartas, muito bem escritas com uma letra certinha, outras nem tanto, mas que entre elas guardaram através do tempo exactamente o que queriam transmitir , fossem elas brejeiras ou de cariz mais serio mensagens de amizade, conquista de corações recados de amores tudo o que guardavam.

E guardaram tão bem que ainda sinto o cheiro de perfume que usualmente lhes acrescentavam bem como flores secas chamando atenção para um qualquer dia que se haviam encontrado.


Flores que colocavam entre as paginas de um livro até que secassem, e se tornassem o símbolo de um momento mais especial.

E vou abrindo e relendo uma a uma, fecho os olhos e revejo toda essa gente que enviou as ditas, e as lembranças caem em catadupa, umas fazem-me sorrir outras deixam-me os olhos marejados de lágrimas.

Uns que já partiram mas ficou a sua marca eterna na folha alva de papel apenas sobressaindo a tinta de caneta “Pelikan”, outros a distancia separou-nos pela imposição da vida.

E era assim naquele tempo, a corrida à caixa postal, abrir o envelope com um gancho do cabelo rasgando apenas a lateral do envelope, depois abstrair de tudo e todos e beber avidamente as palavras nelas contida, ate dobrar a meio e esconder no bolso da bata ou num seio.

Relia-se mil vezes a mesma coisa, até chegar a altura de as arrumar direitinhas numa caixa perdida no fundo escondido do guarda-fatos.

Hoje já não se escreve uma carta, é “cafona” coisas de velhos, apenas se escrevem mensagens cheias de palavras codificadas que não deixam rasto nem saudade pois sucumbem a um simples “delete” do telemóvel.

É tão bom ler e escrever, sentir o peso da folha de papel apenas manchada pela escrita indelével mas tão cheia de sentimentos.

Pois é acontece a quem guarda tudo, e depois encontra o mundo.





quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Até sempre minha Vânia linda!



      Luiza Alagoa com Vânia Santos último aniversario.


Foi um bébe lindo de olhos e cabelos negros encaracolados sorriso aberto uma autêntica boneca, uma alegria para todos a menina que tantas vezes tive nos braços.

Via crescer, brincalhona e recatada , meiga, chamava-me tia e era a minha querida sobrinha do coração, a minha menina.

Acompanhei-a pela vida fora, nas datas importantes la estávamos ao telefone ou quando a visitava em Cascais.

Uma vida cheia de vitorias que tinha tanto ainda para lhe dar.

Mas essa mesma vida roubou-lhe os sonhos e essa maldita doença apanhou-a mesmo na flor da idade.

A minha Vânia partiu hoje, não consigo nestas linhas transmitir a tristeza que sinto, doí-me o coração, esse mesmo onde ela se instalou quando nasceu e que terá lugar eternamente.

Minha querida sei que agora descansas em paz mas queria muito que não tivesses partido e continuasses entre nós, linda com esse teu sorriso maravilhoso.

Ate sempre minha menina, deixas muitas saudades , jamais te esquecerei



segunda-feira, 8 de agosto de 2016

HISTORIAS DE FAMILIA

                                                                 (imagem da internet)

Fui à aldeia, é bom ir passear à aldeia onde a historia dos nossos antepassados paira no ar, e em cada pedra da aldeia que os viu nascer.


Olhar os campos onde outrora brotava da terra os milhos, o centeio e as hortaliças, o gado pastava e os pinhais “choravam” a resina para pequenas bicas de barro que se transformariam em economias de muita gente, e a vida existia .

Eram aldeias simples de casas de pedra ruas sem alcatrão onde se ouviam os gritos das mulheres chamando alguém que bulia nos campos, as crianças que brincavam no largo e o chiar das rodas das carroças carregadas de fenos ou qualquer outro produto do campo.

Via-se gente movimentando-se os mais idosos sentados à soleira da porta fazendo meia ou remendando alguma roupa.

Hoje os campos estão de “poiso” não há braços que os trabalhem, a gente nova partiu para a “estranja” os mais velhos para o céu.

Mas acho que todos ainda tem um primo ou familiar de porta aberta que nos receba, e é sempre uma alegria.

Perde-se a conta às horas que passam a recordar tempos antigos historias maravilhosas vivências de outros tempos que o tempo jamais apagará.

Minha mãe com um sobrinho relembrando passagens da vida, hábitos de outrora entre um esgar de saudade e um riso, inclusive os palavrões que os velhos já podres de cansaço largavam num grito de revolta mas que os fazia sentir bem aquela descarga de adrenalina e cansaço.

Era uma vida de muito trabalho e pouco descanso. Diariamente por volta das cinco da manha já os regatos de agua corriam para regar os milhos, fosse verão ou inverno era por essa hora que se começava o dia, e terminava quando já o sol se pusera há longas horas.

Uma imensidão de trabalhos que teria que ser feitos diariamente para sustento da família raramente com menos de cinco ou seis filhos.

No rolar da conversa da qual eu nem fazia parte, pois fluía baseada numa época que eu nem existia mas com muito gosto ia ouvindo.

Eis que oiço o relatar de uma passagem de uma das minhas bisavós que achei de inicio caricata mas com um fim maravilhoso.

D. Amélia senhora abastada no tempo vivia numa casa de pedra com um largo onde recolhiam as lavouras bem como o produto delas, acompanhada de uma criada.

Tinha cinco filhos que já haviam ido às “sortes”* alguns já mesmo casados quando quis o destino que ficasse viúva.

Decidiu então fazer as partilhas dos bens em vida pelo que sozinha rabiscou num papel todas as terras que possuía e dentro daquela que era a sua justiça repartiu por todos os filhos igualmente, deixando uma única que tinha junto à casa.

A condição básica é que todos aceitassem e não poderia haver trocas, pois ela lá tinha as suas razões.

Das terras repartidas por cada um dos filhos, enquanto fosse viva teriam que anualmente
entregarem-lhe determinada medida de milho, centeio, azeite, batatas, lenha para o inverno, etc que lhe daria para todo o ano.

Do terreno junto a casa , seriam cultivados pelos filhos todos os mimos da casa tais como hortaliças, feijão verde, alface, tomate que apanharia a seu belo prazer quando precisasse todo o resto seria para beneficio de todos.

Ao chegar a este momento da historia confesso que um diabinho me soprou ao ouvido, para que raio queria a velha senhora estas mordomias pois era só mais a criada sobraria certamente o que iria receber.

Continuei a ouvir o relato da historia que desconhecia de todo.

Ao domingo a mesa era posta em casa de D.Amélia e ao almoço todos os filhos lhe faziam companhia , e a conversa fluía entre todos falando sobre a vida as culturas e a família.

Entendi depois a ideia da idosa, assim conseguia manter a união familiar e quanto a partilhas jamais haveria confusão.

No entanto fiquei a magicar sobre o excedente que certamente teria ao receber anualmente o determinado de cada filho.

Eis que para surpresa minha, oiço dizer que tendo sido questionada ela responde que o excedente seria distribuído aos mais necessitados que muitas vezes lhe passam a porta sem uma côdea de pão para comerem e dar aos filhos.

Orgulhei-me desta minha bisavó que soube manter a família unida, e aos mesmo tempo fazer caridade que naquele tempo era bem necessária.


*sortes- serviço militar

quarta-feira, 27 de julho de 2016

A Casa Colonial



Eram casas grandes ou pequenas já nem sei mas tinham uma varanda a toda a volta, larga por onde o vento fresco se passeava enxotando o calor que o sol tórrido  teimava atingir nas paredes interiores.

Ao centro de planta simples dividiam-se em quatros  os quartos de dormir e as salas.

Espaçosas cada uma com sua utilidade, a sala de jantar onde uma enorme mesa com muitas cadeiras compunham o centro e num dos lados um imenso aparador onde se guardava a louça domingueira.

Sobre o aparador um naperon em renda de linha mui fina feito ponto a ponto ao serão a luz fraca da lâmpada do tecto ou ate mesmo de um petromax, um relógio antigo, uma jarra de flores .

Na outra sala, dita de visitas uns caldeirões de madeira onde se exibia lindos almofadões de chita garrida que amortecia o corpo de quem ali se sentasse.

Um gira discos antigo móvel bonito ao seu tempo. Dentro os vinis com as mais lindas musicas e de outro lado o prato onde rolariam enchendo a sala de melodias que adormeciam a alma.

Uma estante de umbila feita pelo carpinteiro da aldeia, onde alinhados os livros já velhos de tantas vezes serem lidos, acompanhavam noutra prateleira as minúsculas figuras da aldeia indígena que havia em todos os lares em África.

Um banco alto onde uma planta verdejante emprestava uma frescura à sala.

O chão de cimento vermelho brilhante, que para o efeito havia sido queimado com cimento fino misturado com um corante apropriado, compunha a beleza do local.

Para lá de um dos lados da varanda a cozinha, grande como nenhuma, e uma dispensa .

Na dispensa rodeada de prateleiras, armazenavam bens alimentares, os azeites, as massas o arroz que se comprava aos sacos de cinquenta quilos que se distribuiria depois por garrafões de vidro grandes e selados com cera, o açúcar as conservas etc.

Na cozinha bancas de cimento, na parede um gradeamento onde o aluminio  das panelas brilhavam de ter sido esfregadas com cinza pelo "mufana"  (ajudante de cozinheiro),e o fogão de lenha que dava aquele gostinho especial à comida.

E o calor teimava aquecer a casa, que pela manha mantinha as janelas abertas aproveitando a frescura matinal mas depois cerradas ficando numa penumbra que mantinha o fresco.

A varanda, onde alguns vasos de plantas espalhados faziam a delicia da dona de casa, enfeitavam o local onde cadeiras de lona verde convidavam ao relaxe do fim de tarde, era basta vezes molhada com mangueiradas de agua refrescando assim toda a casa.

Mas era ao cair da tarde que uma brisa fresca invadia o local era nessas cadeiras que os senhores se estendiam de cerveja gelada na mão numa conversa amena enquanto ouviam do velho transístor as noticias e as musicas da época.







E caía a noite, os mosquitos invadiam o território do descanso num zumbir incomodativo mas a frescura da cacimba que caía colava-os as cadeiras e passavam pelo sono, um sono gostoso interrompido pelos sons da noite e pelo movimento constante num tentar afastar a única coisa que incomodava naquele praseiroso descanso.