Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Hoje apetece-me recordar Zobué !

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Bastas vezes viajava até o “interior” ao Mussacama e Zobué porque por ali tínhamos amigos e havia necessidade de o fazer mais que não fosse para levar um pouco de “bula bula” aos cantineiros que tão isolados estavam da “civilização”, ou porque meus pais iam matar saudades do tempo em que por la viveram, na “missão do sono” da mosca Tsé-tsé.
Era lindo aquele aglomerado de casa quase todas iguais, em frente canteiros ladeados de tijolos colocados com alguma inclinação que protegiam o espaço das arvores espalhadas pelo meio, e pintados de cal branca.

zobue
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Nesse tempo criaram-se grandes amizades que perduraram pela vida fora.
Entre tantos, havia o Pereira do Zobué que tinha uma loja junto a fronteira com o Malawi o Adelino Costa que acabou por me baptizar e meus pais apadrinhar duas das filhas deles, o Cravo, os Proença e tantos outros.
Muitos apenas sabiam notícias da família ou da cidade quando passava o machimbombo que levava gente e a correspondência o que acontecia apenas uma vez por semana. O velho Matos baixinho e gordinho sempre bem-disposto fizesse calor ou chuva por aquelas estradas de terra muitas vezes intransitáveis.
Os cantineiros viviam isolados, apenas os naturais da terra e os animais selvagens os rodeavam, criavam nos seus quintais e machambas a bicheza e os frescos de que se alimentavam.
Normalmente tinham a residência ao lado das “cantinas”, pequenos estabelecimentos comerciais com prateleiras e um balcão de madeira, onde o negócio era feito com os autóctones, vendendo os bens essências e a compra do milho que eles cultivavam.
Bastas vezes era o nosso destino de férias - Mussacama, onde minha madrinha tinha a loja, eu minha irmã e os seus cinco filhos, dava para fazer umas paródias diárias acabando por não darmos conta do isolamento.
Os dias eram passados em incursões pelas aldeias em redor, cobiçando o artesanato ou dando conta se havia nascido alguma criança.
Por vezes acompanhávamos o meu padrinho ao pomar de laranjeiras que ficava bem longe da casa num caminho que ele fazia diariamente com muita facilidade e a nós nos parecia muito longe.
Á noite, á luz do petromax enchíamos a grande mesa da sala de jantar saboreando a boa comida que o velho cozinheiro de nome “Chambo” confeccionava primorosamente há mais de 20 anos.
Terminada a refeição, ou se jogava as cartas ou passávamos a salinha de visitas onde durante o resto da noite improvisávamos teatros, fados etc. desarrumando os baús de roupas da minha madrinha.
O sítio onde eramos corridos era de trás do balcão da loja onde fazíamos mais estragos que outra coisa.
Eram os “swetes” que enchíamos os bolsos para dar aos mwanas, quando não resolvíamos cortar pano das peças das prateleiras, mandar o alfaiate embainhar para dar ao bebe que nascera recentemente.

alfaiate
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E o alfaiate, pachorrento, sentado na varanda junto a porta da loja, em frente á sua máquina de costura, pedalando constantemente, la nos ia aturando pacientemente deixando para trás os serviços urgentes pois sentados á espera estavam as mulheres que haviam ali comprado as capulanas.
Do outro lado da estrada uma enorme mangueira de mangas amarelas e pequeninas faziam as delícias de todos, fossem verdes com sal ou já maduras que colhíamos atirando pedras na tentativa de lhes acertar ou pedindo aos mwanas que subissem la acima.
Passado a semana quando o pai nos vinha buscar, a alegria não era muita por isso quase sempre de regresso a casa connosco vinha uma das meninas que depois regressaria terminadas as ferias.
Como tenho saudades desses tempos.
Não havia luz, nem centros comerciais, nem jogos nem telemóvel nem telefone mas viveu-se uma das férias mais felizes da minha vida.
(partilho estas recordações com a Marilia Costa, Susete Costa e Odete Costa, Carlos Costa lá nos Brasis e Fernando Costa uma estrelinha do firmamento, companheiras destas ferias, Ema Robalo e irmãos e todos que viveram no Zobué)


domingo, 27 de janeiro de 2013

E se lhe retirassem um filho?

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Conhecedora do interior deste país, encontrei muitas famílias pobres das que viviam do que a terra lhes dava á custa de muito trabalho braçal, de muitas noites mal dormidas mas de refeições, com a mesa cheia de filhos, os que Deus lhes dava,  de olhitos vivos aguardavam a malga da sopita um naco de pão, tecto de abrigo e um carinho do pai e da mãe que nunca faltava.

E criavam-se, correndo pelos campos muitas vezes de calções remendados e descalços mas felizes, um gosto ouvir suas gargalhadas.

Tempos difíceis que não havia seguranças social nem crise demográfica, as crianças cresciam, criavam-se e faziam-se homens.

Esses homens que fizeram este país crescerem.

Nos tempos “modernos” da tal segurança social “inventada” para melhorar a vida ao povo, a coisa complica-se.

Refiro-me neste caso a protecção das crianças, e a ultima noticia que me incomodou, a retirada a uma mãe, de sete dos dez filhos que o casal tinha porque a sua religião condena métodos de contracepção.

Confesso conhecer apenas o que a comunicação social nos diz, mas pelas imagens que vi do casal e da casa do mesmo não me pareceu que estivessem mal instaladas ou abandonados.

Assim sendo, haverá sitio mais seguro que os braços de uma mãe?

Então porque a pressa de os retirar, estavam em risco por serem muitos, e assim passam a estar em segurança.

É que há crianças referenciadas, que não são tão numerosos e acontecem as coisas mais bizarras e não as vão buscar.


Lembro o caso bem recente das duas crianças que a mãe matou pegando fogo á casa, ou o caso Joana desaparecida, e os que diariamente aparecem no jornal, abusadas sexualmente, que fez esta instituição para deixar chegar a este ponto?

Como explicitamente diz o nome “Segurança Social”, isto não é o que está acontecer.

Se esta mãe que tem 10 filhos é uma boa mãe, e precisa de ajuda, que se dê porque garanto que nenhuma instituição ama mais as crianças que a própria mãe.

Não ficaria mais em conta ao estado a ajuda a estas famílias numerosas que o quanto uma criança custa nesses centros?


Mas retira-las como quem leva cachorrinhos e coloca-los em instituições muitas delas não passam de centros de recolha onde as crianças ficam “tudo ao monte e fé em Deus”, é de ponderar.