Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 24 de março de 2013

DOMINGO DE RAMOS

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Hoje é domingo de Ramos, tempo que antecede á Pascoa.
Antes de vir para o trabalho deixei a minha mãe na Igreja que tinha o chão coberto de flores e alecrim, por onde passaria a procissão.
O ar cheirava bem, uma mescla de alecrim e flores, as pessoas apressadas caminhavam em direcção á cerimónia da bênção dos ramos. Toca o coração de todos a fé e a vivência desta época Pascal.
Recordo a aldeia de meu pai onde tantas vezes passei esta época festiva, no dia de hoje desfilavam orgulhosamente os crentes de ramos enormes na mão. Dizia-se que quem levasse o ramo maior e mais “composto” teria mais bênçãos do senhor.
Crenças religiosas da aldeia mas efectivamente o tamanho e a composição dos ramos era preenchida com um enorme pau de loureiro quase sempre da altura do portador, enfeitado com ramo de oliveira, alecrim, laranjas, pão e flores.
Era a vaidade do dia, assim se enchia o terreiro numa troca de palavras quer de inveja quer de elogio pelo ramo mais bonito.
É a entrada da semana santa, o jejum e a abstinência ainda se cumpre por aqueles lados, e reza-se a via-sacra, até sexta-feira santa e sábado de aleluia, entre o povo pois o padre só ali vai ao domingo.
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Ao fundo desta rua fica a Igreja

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Igreja de Santiago Armamar

A igreja é pequena, muito bem cuidada, com uma lindíssima talha dourada no altar, pequena para acolher todos que assistem á missa em dias festivos.
A terra, Santiago, recebeu Carta de Foro de D. Afonso Henriques (1169) e a ela se referem as inquirições de 1258. Na primeira metade do século XVI era lugar do termo da vila de Armamar, segundo Censos de 2001 tinha 180 pessoas, hoje apenas meia dúzia de idosos restaram como guardiões de tantas portas fechada de famílias que se fizeram á vida pelo estrangeiro ou para as capitais.
Terra de produção de batata, cerais, vinho e castanha, actualmente apenas campos de poiso, porque com a entrada na CEE, a agricultura deixou de fazer sentido pela falta de escoamento do produto.
Mas nestes dias regressam todos a casa, o “eiró “ enche-se de gente alegre, abraços e sorrisos,  no ar o cheirinho dos bolos de azeite que as mulheres levam numa correria para o forno, as chaminés fumegam incessantemente, marcando a presença dos normalmente ausentes.
E vou recordando o gosto dos bolos de azeite, e dos doces amassados na masseira de casa, na cozinha aquecida por uma enorme fogueira que arde na chaminé, e aquece todos, e seca os enchidos pendurados na trave e que tempera as panelas no inverno.


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No domingo de Pascoa, enchem-se as mesas de gente em redor dum assado de cabrito acabadinho de sair do forno com arroz “solto” como dizem, acompanhado pelo maravilhoso vinho da região que aquece as almas e esquece as desgraças.
A família está reunida, até que se oiça ao longe a sineta anunciando a chegada do padre para a visita pascal, depois perfilam-se os familiares,  os vizinhos e amigos para beijar a cruz e deixar que entrem e benzam a casa, e que Deuse os protejam.
E assim decorre o dia entre as visitas a casa de uns e outros, em conversas atrasadas, bebericando aqui e ali a tal pinga da terra, até que a noite chegue e se acabe a festa.
Brevemente todos partirão e a aldeia torna a ficar vazia de gentes, afectos e vida.

(Imagens retiradas da internet)

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