Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 15 de dezembro de 2012

O MEU PRESEPIO

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O meu Natal é e será sempre assim, um presépio de imagens Africanas, ao fundo o rio das minhas lembranças, de aguas límpidas, cheias dos meus sonhos de menina, lágrimas de alegria, suspiros de amor, saudades infindas.

Era assim o meu Natal, no canto da sala de visitas, um ramo de arvore com enfeites simples, bocados de algodão imitando flocos de neve que nunca vira, estrelinhas feitas das pratas dos maços de cigarros, que íamos juntando ao longo do ano, e nesta montagem muito amor.

Coisas simples que unem a família.

Importante era a manhã do dia de Natal, onde encontrávamos junto a arvore apenas um brinquedo, o que nos tomava toda a atenção e estimávamos com todo cuidado.

E estimávamos de tal modo que passados quase meio século, ainda foram companheiros de brincadeiras de meus filhos e netos.

E para a ida á missa não faltava o vestidinho novo e os sapatinhos a combinar.

Foi sempre assim o meu Natal, e quero que assim continue, com muito amor e em família.

Feliz Natal a todos.


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Um conto de Natal

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Chaola, assim se chamava o pequeno enfezado que percorria as ruas da cidade, perdido da vida, não tinha casa, nem família.
Restara da colheita de morte que a doença do século ia fazendo pelas terras de África, e sozinho aventurara-se ate a cidade onde se dizia haver tudo que a vida lhe negara, pouca coisa pedia ao futuro, apenas comida e uma muda de roupa, pois a que trazia já perdera a cor e desfazia-se com o passar do tempo.
O mesungo que há meses passara perto da sua aldeia, a caminho da cidade, num carrão que rodopiava levantando aquela poeira que todos cegava, e fazia pasmar os pequenos, ouviu a exclamação: Uha , patarão!!. e sentindo-se importante, e admirado pelo pirralho chamou-o e deu-lhe a cabedula e a camiseta, a única que ainda vestia.
Já fizera tanto tempo….
Vagueava de dia pelos arredores dos restaurantes esperando encontrar alguma sobra que lhe matasse a fome, de noite recolhia-se num qualquer buraco onde ninguém o encontrasse, não fossem os outros mufanas , bater-lhe e roubar os parcos haveres que ia recolhendo do que  deitavam fora mas para ele era tudo que tinha.
Certo dia começou a notar maior movimentação nas gentes da cidade, as mamanas num entra e sai das lojas , com enormes sacos que colocavam a cabeça ou carregavam no braço, derreando as costas num esforço enorme.
Solícito oferecia-se  para as ajudar , umas aceitavam outras medrosas que fosse algum pivete que apenas as roubaria, davam-lhe enormes corridas.
Em troca havia sempre quem lhe desse umas quinhentas ou mais que não fosse, algo para enganar a fome.
Numa  manha  ao sair da missa estando ele como sempre , sentado ao fundo das escadarias de mão estendida, a D. Adélia, já com avançada idade, parou, olhou para ele e apenas lhe disse que a acompanhasse.
A medo e a uma distancia conveniente seguiu a senhora, cabisbaixo , pensando no que poderia  esperar.
Chegada a casa, pediu que o petiz entrasse, e esperasse. Dirigiu-se ao quarto dos fundos que não se abria desde que seus filhos partiram, escolheu algo e regressou onde esperava Chaola.
-Toma, vai ali ao fundo do quintal, lava-te e veste isto, quando acabares vem ter aqui.
Assim foi, em pouco tempo já  parecia outro, roupa lavada, nos pés umas sapatilhas enormes que ele achava serem de seu tamanho, e com um sorriso rasgado.
Adélia segurou-lhe na mão e empurrou-o para a mesa da cozinha, mandando     que se sentasse em frente a um prato de comida quente e cheirosa.
-Come menino, não tem fome?
Chaola, envergonhado come a medo, enquanto vai olhando a senhora, quando esta lhe pede que conte a sua história.
Terminada a conversa e a refeição , ouve -a  propor que fique ali pois precisava de alguém que lhe fizesse alguns recados e pequenos serviços que a idade já lhe não permitia fazer.
O menino ainda hesita e num ápice recorda tudo por que passara , afinal ter um prato de comida e uma cama para dormir era mais do que esperava quando se aventurara a vir para a cidade.
Por ali ficou uns anos, até que num dia quente de Dezembro, D.Adelia partiu.
As lagrimas corriam pelas faces negras na incerteza do seu futuro, sentado numa pedra do quintal da senhora debaixo duma sombra fresca,  foi recordando o dia que ali chegou, e só mais tarde se lembra que naquele dia, D.Adélia, havida estado a assistir á missa de Natal.
Chaola, pega nos seus parcos haveres e parte para longe para trabalhar como magaíça, com ele leva um retrato tirado com a senhora,  no quintal da casa que o tão bem o acolheu e jamais esqueceria,  seria o seu guia. 



domingo, 9 de dezembro de 2012

O 8 de Dezembro.

Estou triste, talvez por ser como sou, ligada aos bons tempos da minha juventude, dos tempos de menina e jovem, estudante de dois colégios religiosos, onde as pessoas que me rodearam passaram a fazer parte da minha vida para sempre.
Foram nestas instituições que fizeram de mim a pessoa que hoje sou, guardadora de recordações que jamais o tempo apagará.
Lembro-me de pormenores que muitos já esqueceram, mas o 8 de Dezembro esse dia, jamais o poderia esquecer.
lavores


Naquele tempo no colégio de S.Jose de Cluny andávamos numa azafama com a Irmã Doroteia a perna no faz e desfaz os pontos de bordado do enxoval do berço.
Sim, um belíssimo enxoval de bebe feitos nos mais delicados tecidos, com imensos pontos miudinhos e perfeitos, bordados com delicados desenhos de florzinhas, em linhas de seda, e bainhas abertas nos lenções delicados de cambraia.
A alcova, e mais o cestinho redondo de asa alta, feito pelos presos da cadeia, era lá onde que se ia comprar.
Depois forrado de folhos de tecidos aos quadradinhos terminados em  alva renda com espaço para nele passarem as fitinhas de cores que lhe davam um toque mimoso. A combinar o tal cestinho redondo que também forrado do mesmo tecido servia para os produtos de banho do bebé.
Tudo era exposto para que os visitantes pudessem apreciar a beleza que das nossas mãos saiam apesar da nossa pouca idade.
E era o dia da mãe, a missa pela manhã, as prendinhas e um dia diferente e maravilhoso.



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Nos anos que estive no Colégio da Imaculada Conceição em Vila Pery, também era dia de festa enchia-se a salão de entidades e pais das alunas, decorria sempre um teatro com a participação das alunas.
Hoje já não é o dia da mãe, já ninguém se lembra da Imaculada Conceição nem do que se passou nesse dia em anos passados, e com o andar dos tempos até deixará de ser feriado.
Perdeu-se parte do nosso passado, que pelos vistos já ninguém se lembra.